quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

15° Concurso- A mulher do Proximo

Eu nunca tinha reparado na moça direito. Casas vizinhas, da minha janela eu podia vê-la estender as roupas no varal, sabia usar água sanitária porque tudo era bem alvinho, devia ser pobre mas limpinha.. Gostava de ouvi-la cantando, assim, um tantinho desafinada, toda feliz lavando o quintal. Eu dizia oi por sobre o muro, um tanto escabriada, e ela sempre me respondia.
Não sei quando comecei a desejá-la em minha vida.
Foi assim, sem querer, que eu comecei a querer que estivesse comigo e não com ele. Um grosso que não sabia reconhecer uma roupa quarada ao sol. Um tosco que berrava com ela quando se atrasava um pouquinho. Uma besta, isso sim.
Fui me tomando de ternura pela mulatinha franzina e quis ela para mim
Depois disso não tinha um dia que eu não desejasse que ela estivesse em minha casa, do meu lado, cantando Leandro e Leonardo na minha cozinha. Eu tinha certeza que nunca gritaria com ela, mostraria Tom Jobim, Elis Regina e ela aprenderia a cantar música boa e eterna. Uma questão de educação.
Ofereci salário mínimo, décimo terceiro, férias remuneradas, transporte, cesta básica e ela veio toda feliz lá pra casa. Lava, passa, cozinha. Só não chuleia porque é meio míope, mas eu não ligo. Ela me faz feliz e me chama de patroinha. Adoro quando ela me chama assim.
O grosso me xingou de todos os nomes e disse que roubar empregada era igual roubar a mulher do próximo, que eu ia queimar no fogo dos infernos, que se me pegasse numa esquina, me enchia de porrada. Eu disse que se ele viesse pra cima de mim eu ia enfiar o cabo de vassoura no traseiro dele, que ia jogar cloro nos seu olhos, que ia pregar o saco dele com todos os meus pregadores de roupa. Ai dele se ele se engraçasse de novo pro lado de cá do meu muro, que eu furava ele todinho, fazia dele uma peneira, bateria com a panela de pressão até ela virar uma frigideira bem no meio daquela cabeça careca dele, que eu ia queimar ele todinho com a minha chapinha de alisar cabelo.O maior bafon! A rua toda vendo aquela baixaria. Tô nem aí.. Quem não cuida , perde mesmo. E quem quer, toma!
Mas, para garantir, botei o nome dele na boca do sapo. Aguardo, ansiosa, a sua morte lenta e justa.
Agora sigo feliz da vida com a casa limpinha, a roupa balançando no varal, Leonardo ainda desafina na cozinha, mas tudo é questão de tempo. Já já começa a cantar que está chovendo na roseira.
Quem diria que eu diria isso, mas achei a mulher de minha vida!
E se alguém quiser roubar, eu mato!!!

8 comentários:

Clarissa Felipe disse...

Olha, quem não dá assistência abre concorrência e perde a preferência...
Cuidado, moça...
Beijo.

Gustavo disse...

Entende a Tia é ?
AUhahu



Roubar empregada é pior que roubar mulher dos outros auhauah.

Eu já tinha um voto decidido, mas mudei de opinião agora.

Anônimo disse...

Hum... de certa forma que se sentiu traído fui eu, mas tá valendo, patroa.

E que bom que você tá de volta.

Beijo.

Tatiana disse...

Cirineu,
Traído por que??????

Tatiana disse...

CHULEAR

do Lat. subligare, atar por baixo

v. tr. e int., coser ligeiramente a orla dum tecido, para que não se desfie.

Vanessa Anacleto disse...

Essa sua inspiração por agua sanitária tem explicação :-) andas trab muito.

bjs

Viridiana disse...

Rindo aqui...
Tu achou a mulher da sua vida, roubando-a do próximo.
Adorei os métodos de tortura.
Pretendo usá-los brevemente, além do nome na boca do sapo.
Nem preciso comentar que sempre acho teus textos bons.

marcio castro disse...

tati, delícia de texto.

bom ver você de novo com os malditos. valeu.